domingo, 11 de junho de 2006

Todos-Nós-De-Botas - para o Ferdy

SAUDADE
05/09/91

O silêncio da Hora do Brasil
O avô na cadeira
A cadeira ao lado do rádio
A notícia solene instigando
A tia vigiando o silêncio
A gargalhada mal contida no gogó de criança

O silêncio lá de fora
Do jardim da frente
Do escuro do coaxar do sapo-martelo
O silêncio do nosso sítio, naquela hora,
O desejo de desbravá-lo
O alívio do final da “Hora”
O riso, o brincar ainda mais um pouco...
Por favor... mais um pio...

"Pio!"

A hora do sono
“Anjo da guarda, doce companhia...”
Não nos desampare.
“São Bento, São Bento...”
A solene hora da oração
A tia vigiando a fé

O sono mágico
O acordar para toda a fantasia a nosso servir
A tia instigando a travessura
As estórias, a aprendizagem
A presença coadjuvante dos empregados
O cheiro da baia, da pocilga, da flor e da fruta ainda no pé...
Goiabeira bichada, framboesa boa de caçar

A presença mais que protetora do avô do outro século
A tia com a sabedoria do mundo no olhar
O sangue da família aquecendo cada dia e cada noite e cada gesto
Como lareira feita de amor
Na casa que foi de outrora
E que já havia visto tudo isto acontecer, mil vezes...

A confiança incontestável
Se saber para sempre segura naquele lugar,
Dentro daquela hora
Agora tão perdida no tempo...

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