quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Barros & Areias



Casamento da fã (e) do poeta 


Ele, dela nunca ouviu palavra,
escrita, dita ou piada.
Nunca ouviu um pio! 
(E não que ela não tivesse passarinhos pra contar!)

Ela, por ele jurou admiração eterna, 
sem que morte alguma ousasse palpitar.

Pois assim, como quem carrega água na peneira, casaram-se, neste dia 13 de novembro de 2014,
Manoel dos Barros e Cristina das Areias

FIM
(apenas pra constar!)

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

                                                     Manoel de Barros
                                                     19/12/1916 - 13/11/2014


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