Enfim, estão aqui porque foram dedicados a alguém. Gravaram aí, mesmo que “literariamente incorretos”, o instante do “único” amor vivido... (Não foi único naquele instante, Vinícius?).
Que meus amores se regojizem, portanto. Quem passou por mim, aqui está e assim, não passou. Ficou.
Aqui está o amor do Norte, o que foi da vida inteira, aquele... que me emprestou o azul dos olhos pra colorir certos dias mais turvos... Aqui está o amor do Sul... talvez nem tanto amor assim, afinal... mas que me deu belas letras... Aqui estão aqueles com quem brinquei e os que não me fizeram achar graça nenhuma da brincadeira! Também aqui, minhas ousadias.
Tem meu pai, minhas mães, meu avô, minhas amigas, companheiras de viver ou de ouvir a vida.
Também estão certamente, meus filhos. Todos eles. Solenes, imagino, de algum outro lado, admirando... Capturados na perfeição dessa saudade tardia e esquisita que sinto por não os ter tido.
Bem, pobre ou não de letras... é esta a minha homenagem.
PLENITUDE
Roubar pro teu olho o horizonte todinho
Roubar de Quebra o mar...
Por a nau toda a Vapor
Empinar teu nariz no céu
Desafiando quaisquer grandezas
Encher peito de todas as proas
Linhas te cortando nos quatro pontos
Norte e Sul
Se rasgando por ti
Pressa pouca é bobagem
Desejo pouco é mesquinhez.
jun/97
***
ATO DE CONTRIÇÃO
para Yuri
Pelas minhas intolerâncias e raivas excessivas
Pelas minhas impaciências
Por minha pressa exagerada, perigosamente cega.
Pela minha pouca Fé
Pelas vãs e até dolosas paixões
Pelos descasos que cometo dia a dia e que percebo e que torno a cometer
Por minha falta de Compaixão
Por minha Soberba
CULPADA
Às vítimas destas minhas constantes desumanidades, ofereço este breve e provavelmente fugaz momento de contrição
Porque sei que dada a minha pequeneza e a minha gigantesca (quase sobre-humana) preguiça,
Quando abrir a porta de minha casa e a Vida jogar em minha cara sua particular girândola de horrores,
Cometerei mais crimes do que ora me proponho a redimir.
E serei fraca, e serei vil e voltarei aqui umas outras tantas vezes,
Consternada, com o coração compungido e em sobressalto, a pedir perdão,
Pronta a recomeçar, a rever, a resgatar... pronta a reparar,
Ansiando algum caminho, nem tão longo talvez,
que me torne um pouco melhor.
Novembro 2002
****
DEDICATÓRIA
para Uther
Desde o vento do Sudeste que abraça o Minuano
Ateia fátuo fogo às fronteiras
e revoada a pássaros que querem querem... gaivotas?
Desde a lagoa que aqui sustenta lua, cidade, Cristo e montanha
Desde aqui,
Persiste em lombo de bagual sem brida e acossado
Meu virtual e impecável amor por ti.
18/02/98
****
VELHICE
Sabe no olhar a infância impossível,
Vulnerável a espelhos,
Particular museu para se reaprender?
Ele avisa a cada segundo que já passou da hora de fechar!
As festas da vida acontecendo sem dó à sua frente
E orgias lhe doendo muito as entranhas.
Nas linhas, nas linhas que te enfeiam a cara,
Se maqueia a prisão perpétua de teus desejos...
Ago/96
****
DEVASTAÇÃO
Ando chorando pela última vez
esse querer inútil
Como é que vim parar nesse exílio
se desconfio nunca haver existido pátria?
Invento terras de amor
Vou por aí aos tropeços
Qualquer um e todo mundo
tem serventia pra dor
Estou em leilão
Enxoto o amor de mim
como cadela vadia
Execro, ataco
e faço verso de pé quebrado
Meu querer já tem mortalha
e ando tão triste
nem é mais primavera
não tem flor esse funeral
Como é que vim parar nesse exílio
se desconfio nunca haver existido pátria?
É Carnaval e no entanto tenho Quaresmas na alma.
Ando por terras devastadas de amor em mim.
31/12/1997
****
Como me é tão cristalino,
Estar aqui,
Do outro lado da noite de Natal,
Me esmerando por tecer,
Em delicados fios de prata,
O milagre fantástico da tua fé de Anjo!
Com zêlo me esgueiro pela noite,
Na escuridão de teu sonho,
E redobro forças para eu, descrente pecadora,
Metamorfosear-me em um Velho Santo e Caridoso
E ver, assim, brilhar,
Pousada em seus olhinhos de mágica,
A ESTRELA DE BELÉM!
NOTA: Primeiro Natal da Paulinha...
25/12/82
Há dias me sinto assim,
Inquieta...
Nada me satisfaz ou sacia,
Tenho uma infinidade de fomes específicas me revirando o estômago,
Anseio, do mesmo enfático modo,
O retiro e o Carnaval.
Quero uma, duas e nenhuma companhia em absoluto.
Num minuto tenho certeza de que todo o meu mal se resume na falta de alguém que me conduza à morte, no subseqüente mexer milimétrico do ponteiro.
Ando como se permanentemente dentro de uma jaula, quando não há, sequer, um “lá fora”...
Impulsos altruístas me assaltam numa obscenidade de abraços com instintos assassinos.
Me racham ao meio.
Sinto-me dividida e crucificada com extremismo cristão.
Fico louca de calor e procuro cobertores debaixo de sóis causticantes.
Quero me demitir de tudo e me arrependo, constantemente, no minuto antes de todos os atos.
Me apaixono, mortalmente, por mil homens e mil mulheres, dos 12 aos 80.
Me sinto, assim, vazia, perdida
E com uma obra literária inteira
Entalada na ponta de meus dedos
Olho o precipício
Desejando muito me atirar
Tanto quanto recomeçar tudo outra vez
Não sei o que faço
Não há uma atividade que capture minha atenção sem me exaurir em segundos
Me segue amiúde e de perto
Uma providência a tomar
Uma decisão e um ato
Que não sonho quais sejam...
Lanço-me no papel com ganas de suicida
Há um vento tirano correndo em mim e ele tem a cara do perigo
O cheiro forte de tormenta e tempestade adentra meu nariz
Quando toda a minha alma é um imenso descampado
Sem esconderijo, sem abrigo...
Eu sei que irei enfrentá-la, querendo ou não
Estou pronta para ficar,
Com uma mala em cada aeroporto do mundo
Se minha mão direita se estende,
Plagia o poema do Rui
Minhas pernas dançam estanho e descompassado ritmo
Rumo ao Norte, rumo ao Sul
Numa coreografia aleijada e incoerente.
O meu coração vem batendo sempre forte.
Sabe da pressa da tormenta,
E sabe que não há retorno.
Encaro-a, sabendo-a última.
Me assombro tanto
Enquanto percebo a fúria que graça dentro de mim,
me deixando indefesa, acuada...
(Acuada de que? Se é minha a tempestade???)
Quero o excesso trazido nas mãos do Pânico!
E quero encará-lo com pavor saltando dos olhos!
Estou tonta,
Não sei que idade ou qual é meu sexo!
Sequer me preocupo em perguntar, com um mínimo de insistência!
Olho com inútil simpatia, para os oprimidos
Mas a pena mortal, é de mim mesma...
Um ecletismo morde minha vontade, como déspota!
Descubro, talvez, que o necessário seja desatar nós...
(Mas como, sem minuto que sossegue em mim???)
****
Acabaram-se as letras
os alfabetos...
As camisolas sensuais estão rotas
Exóticos perfumes perderam brilho de estrelas
Não há mais lua que vergue flor
Não parece haver mais bondade no olho do Amor
E tá um Saara no olho da mulher abandonada
Tem sedução passeando em bosque... procurando na esquina...
tá tudo assentado
tem um cala-boca doidinho pra ".exe"!
(coisa de aficcionados!)
pó de ouro tá desfeito na água do rio
longe do garimpeiro
inatingível
outro, certamente, usurpou
tem lençol com mancha de amor antigo caído no chão com a almofada
tem palavra obscena dita ao vento...
...do Sul.
Deus tá de férias
do Cupido então, nem se fala...
um desastre
um acidente grave, semi-trágico
aconteceu agorinha há pouco
no meu coração sem batom.
(coisas de Patrícinhas por excesso em madrugada malvada...)
:-)
****
PASSAGEM DA HORA
Passou a hora por mim, assim, varando tudo
Deixando na veia só vestígio de ácido
Perdi boca, braço, abraço, beijo e coração
Não tem sobra de mim no minuto que está pra trás...
Não tem resto de mim no ponteiro que já vem
26/02/97
Para minha grande amiga Kati... Que ela saiba que a sua tristeza e aflição têm parceiros sobreviventes na vida...
E em cujo pensar diviso o meu?
Meu sentir é por vós tão bem expresso,
Vossa sorte infeliz me comoveu,
Que o peito igual ao vosso eu tenho opresso
Se é grato a quem sofreu dos desenganos
Em desditas crueis, em cruéis danos
Sabei que na minh´alma um verdadeiro,
Um íntimo descrer, há muitos anos
Me torna num deserto o mundo inteiro"
Sou assaltada por uma tristeza velha
Milenar
Traz com ela, a meia luz,
Vozes baixas que cortam o silêncio
O calor exagerado que pede o lenço frio,
O braço fresco...
Que pede a água na boca seca.
Uma ardência nos olhos, a cabeça em fantasia...
Lençóis, travesseiros, cobertas
Barulhos adulterados, distantes que vêm da Copa freqüentar meu delírio...
(Um atordoamento que desproporciona os sentidos; impressões exacerbadas)
A bizarra sensação que abraça medo e aconchego...
O passeio em volta do quarto
Sussurro cantarolado, ritmado entorpecendo e acalentando a febre de criança.
Zelo de pais,
A vigília exaustiva
A tristeza velha, te fere agora os olhos e te encharca de suor órfão...
Ilumina ferozmente, tua solidão
E te acena sombras da infância que contam estórias de terror...
Teu choro irrompe aos borbotões
Como de represa rompida revirando tuas entranhas
Jorra de anos e anos atrás
Tem 40 anos teu choro
Tem pavor da orfandade
Ninguém disse que seria assim!
Tu não estavas pronta!
Houve um desertar não previsto
Fostes deserdada das possibilidades de êxito e é essa tua solidão!
Fenece no dia a dia,
A melhor aluna,
As medalhas de ouro,
A honra, o mérito,
O lugar de destaque
E cada amor mal sucedido,
Cada medalha não reconquistada
Cada filho esvaído
Cada penar sulcado em torno de teus olhos
Está impresso sob a maquiagem mais que patética
No ensaio insólito de pintar a juventude...
Voce guarda aí, em seu peito de mulher velha,
Todo aquele velho medo do escuro...
E não há acalanto ou frescos braços que envolam tua ardida febre infantil
Ou luminosidades de velas que, te banindo sombras, não te firam os olhos...
Estás por tua conta e risco!
Tu és teu próprio fantasma escondido na escuridão,
Espreitando tua lucidez
Se tiveres fome, frio, medo! Se tiveres medo!
Terás tu que prover teu próprio sustento, abrigo e consolação!
Terás tu que arrancar do fundo de tua esteilidade
Cuidados de mãe extremosa (de que nem suspeitas o saber!)
Antevês, aterrada, teu futuro zanzando entre paredes brancas e frias de qualquer asilo ou hospital...
Antevês teu obscuro futuro
Tu, de tantas medalhas e méritos de zelos,
Numa orgia promíscua de iguais...
Teu choro se faz convulso
Estás só como é só a mulher estéril
Teus cabelos desgrenhados
Tua roupa rota; tuas feridas em sangue
Tua alma em degredo!
Não caminhas sobre tuas pernas
E mesmo que, atônitos, perplexos os olhos,
Ainda assim, não inspiras mais atenções
Brincas descalça e nua sob a chuva forte
E nunca, nunca mais, ninguém que te chame para dentro da grande casa...
Todos os aplausos guardados num canto de algum armário escuro e velho,
Prontos para a platéia que nunca houve e, agora, nunca, nunca mais...
Toda a ciência do que havia para aplaudir...
Toda comunhão com os sábios
Todo esse medonho limiar que apenas suspeita a forma perfeita...
E, portanto a mais real dimensão de seu fracasso
Tua alma envelhece sob a pele murcha de teu corpo
Sabes que não há tempo para reparar
O tempo urge
Caminhas apressada
Em atropelo
Mesmo à tua revelia
Conduzida como que por doença mortal
Que julga, condena e executa...
Verbo conjugado do futuro
não mais gavetas
nem envelopes lilases que te amareleçam
(lilases só nas letrinhas)
Não mais lágrima que te manche, verbo
em vez de rasgar,
deletar
melhor que dizer ao vento
soltar ao espaço sidéreo
e assim, de puro regalo
só pra aborrecer a obrigação
e exercitar folia de brinquedo novo
“cibernetaram” poesia
até fazer corar as máquinas
Vamos brincar de palavra
era a proposta
foram cirandar a língua
palavra gentil dando em penca
enxame de frase de mel
letrinha de mão dada
com letrinha
multicolorindo ramo
brincaram de lua
de flor
brincaram de saudade
de amor
verbo conjugado no futuro
jogado ao vento sideral
palavra dita às estrelas
dois pra lá
dois pra cá...
Nenhum comentário:
Postar um comentário