Cenário: Do Flamengo à Barra, Rio de Janeiro, túneis, Rocinha, ônibus comum, mulher, 51 anos parecendo 60, recém "sem-carro" (mas não penso em invadir garagens... ainda não), responsável pela família (ou o que restou dela)...
Um dia de cão? Não exatamente, a não ser por alguns micos...
No ponto de ônibus fiz sinal para um caminhão e não satisfeita para um ônibus escolar... tudo é meio que igual! Fiquei morta de vergonha por não saber tomar ônibus direito e depois fiquei deprimida porque ter vergonha de não saber tomar ônibus dever ser um sinal dos tempos... tempos de decadência. Cadê pai e mãe pra botar no colo ou pelo menos pagar um taxi? Onde foi parar todo o êxito que eu tinha certo como meu aos 10 anos? Sei lá... de todo modo nem foi tão ruim assim... Ônibus parecem caminhões e eu gosto de caminhões e o Rio com ou sem Rocinha-em-Pé-de-Guerra é lindo! De caminhão a gente olha o mar de cima... Fui o tempo todo procurando Baleias...
Um dia, uma moça fazendo uma pesquisa de mercado sobre lentes de óculos me pediu para responder várias perguntas... eu ia lá respondendo (era um desses dias onde eu estava calma) e em determinado momento ela perguntou quem era o responsável pela família... Foi meio que terrível... o nome de meu pai veio como reflexo... não , não mais, tãopouco o de minha mãe... me dei conta de que era eu. Eu era a responsável pela família e a família era eu e dinda. Faltou muito pouco para eu ficar avassaladoramente devastada.
Bem, chego eu - A Responsável - ao meu destino, enfrento as repartições públicas cheias de batons, espelhos e conversas paralelas, atravesso tudo isso com um pouco mais de dificuldade do que atravessara o Rio há pouco, mas saio forte e bastante orgulhosa com todas as renegociações de inúmeras dívidas que tenho de acertar. Em minha bolsa uma pequena fortuna... (que os assaltantes não me ouçam) em dívidas. Não há "Risco-Cristina" no meu caso, vou pagar.
Faço o trajeto de volta. Não há como passar no Leblon sem um chopp com a Beth no Desacato da Clarissa. Kati não pode ir porque está presa num quartinho da vida (ainda não achou a chave) point & click... ela vai achar porque a chave está lá e porque ela é obstinada e valente.
Beth chega, conversamos bastante... Tanta coisa mudou em nossa vida. Conversamos como gente grande tomando grandes decisões que cabiam aos nossos pais... Será que isso é atribuição de caçula? Quero dizer, ter sido mimada, talvez, ter sido protegida... ter tido uma boa vida que agora tá mostrando que tem mais coisas por aí, nem sempre tão boas... ou fáceis... Quando eu crescer, quero ser como meu pai e minha mãe que resolviam tudo rapidinho...
Só mais uma historinha... Beth contou e eu adorei:
A moça contratou uma religiosa fervorosa radical xiiita (não posso dizer qual a religião porque corro o risco de ser processada, agora tem essas coisas... não pode falar pr*** tem que ser afro-qualquer coisa, tem que ter cota... um stress. Aliás, minha blusa era afro-brasileira, muito bonita, por sinal). Voltando a doméstica, digo a servente, a assalariada do lar, ou sei lá que nome, ela era religiosa dessas que nas cerimônias canta alto e não usa decotes e louva Jesus. Os patrões ou Não Assalariados Contratantes, estavam dando falta de objetos... Um belo dia a dona da casa encontrou várias sacolinhas amarradas com seus pertences dentro e um bilhetinho sobre cada uma das sacolas onde se lia: "Obrigada, Jesus!" e isso não era uma piada!!!
Adorei a historinha e está aqui para a posteridade.
Fico pensando agora a razão de escrever tudo isso... Não sei. Pra aquecer a escrita ou talvez só pra distrair a Kati que tá no quarto presa e estressada... Talvez assim ela finalmente leia algo que eu indique!
Ok... the day is closed by now.
postscriptum - pensei muito nessa coisa de origem e decidi que eu quero ser afro-caucasóide...
Nenhum comentário:
Postar um comentário