Vovô
28 de agosto de 2020
Pelos
deuses!!! Hoje, essa minha casa estaria de batom, perfume, salto alto, brincos
brilhantes e sinetes, enchendo o dia 28 de agosto de uma excitação sem fim!!!
Eu ouviria,
da cozinha, tilintares frenéticos entre sabores dançando com fumaça, quentura e
a correria dos risos.
Provavelmente,
de seu quarto, ele, na cadeira de balanço, estaria saboreando alguma recém
refeição, tanto quanto a antecipação da noite festiva.
Na sala,
toalhas, que de tão brancas, refratariam cristais. Cristais que, com certo
desdém – eu creio - ignorariam os oito majestosos (aos meus olhos) braços dos lustres
acima. Pingentes, bobeches, mangas, correntes brincando displicentemente de
arco-íris sobre o linho impecável e perfumado na mesa de Dom Manuel.
Tudo retinia
na casa, especialmente, nossos corações.
Eu tenho o
avô Galvão em mim.
Minha
família é de longe, no tempo.
Nascido em 28 de agosto de 1875, em Bagé, como presente, trouxe para mim, além do tempo, as distâncias.
Entrou,
literalmente, em meus livros de História e também deixou riquezas estrangeiras
em meu sangue. Não é à toa que sou “xenófila”. Tenho um caldeirão de sangues
misturados aqui e sei que vêm de florestas e de montanhas de terras distantes, “terras
sereias”, eu diria.
A História
ganhou vida, sons, suor, testemunhos e o Tempo, outras dimensões.
Me deixou
também o mar (aquele que foi feito só para ser cruzado) e as planícies do sul que,
mais que mares, dão repouso a olhos, depois de travessias.
Meu avô era Almirante e navios me visitaram na infância, com frequência. Uniformes reluzentes (como meus cristais) e medalhas e espadas, que estou certa, pertenceram a piratas, estavam presentes às cerimônias. Como de costume, em minha família, meu avô também me legou fantasia
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Hoje, nessa
opacidade silenciosa da casa, a poeira nos móveis ainda espana meu coração.
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